Por Edna Andrade
Você acorda, abre a sua mídia e as manchetes pegam em cheio nos seus sentimentos. Você os vê pulando na tela, intensificados. Medos, dúvidas, frustrações são magnificados. Previsões são confirmadas. As manchetes são como se fossem mensageiras para a sua vida.
Em que medida você percebe que os acontecimentos que ocorrem no seu entorno, sejam eles próximos ou distantes, refletem as questões da sua vida? E que o contrário também é verdadeiro. Quando você toma consciência do fato de que a mais ínfima das suas ações tem impacto no mundo? Consciência de si e consciência do mundo. O inspirar e o expirar. O pulsar da vida no contexto de cada biografia. Alguma vez você avaliou o contexto da sua existência?
Contexto é uma moldura que enquadra os eventos no tempo e espaço e proporciona uma interpretação apropriada, uma compreensão realista dos acontecimentos, um reconhecimento das forças e entidades que estão envolvidas; do conteúdo das mensagens, do que se pode esperar do futuro. O contexto engloba a paisagem e ambiente da biografia, as circunstâncias, o cenário social, cultural e espiritual.
Sem se levar em conta o contexto biográfico, determinados eventos ficam sem explicação, muitos acontecimentos da vida pessoal ficam sem sentido. Ter uma visão ampliada do contexto da própria vida é essencial para uma leitura mais eficaz do próprio processo de desenvolvimento.
No pano de fundo da biografia individual desenrola-se a biografia da humanidade com seus grandes temas evolutivos. Tudo, cada um e todos, conectados! Este é o drama existencial da alma consciente: a cada passo que damos na trilha biográfica carregamos a imensidão e totalidade da nossa existência humana. Tudo tem relação comigo!
Um exemplo, onde torna-se possível enxergar a conexão e relevância do contexto global está na autobiografia de Michele Obama, recentemente publicada. Enquanto ela conta a sua história de vida, desfila no pano de fundo o movimento dos direitos civis, uma das grandes ações coletivas da época do seu nascimento. É perceptível como os temas, por justiça social deste movimento, estão conectados com os desafios de sua vida e personificam o Zeitgeist da sua trajetória biográfica.
O termo Zeitgeist surgiu na filosofia alemã dos séculos 18/19 e referia-se à atuação de um agente ou força invisível predominante durante uma determinada época da história mundial. Na nossa trajetória planetária individual somos acompanhados pelo Zeitgeist, o espírito guardião do tempo, que personifica o clima cultural e espiritual da época em que vivemos.
Na tradição esotérica o reconhecimento de uma força espiritual que prevalece em uma determinada época é um legado cultural ainda mais antigo. Estes períodos de influência são descritos em ciclos aproximados de 300 a 350 anos e se refletem em definidos períodos culturais do desenvolvimento da humanidade, fazendo fluir aos indivíduos orientações espirituais para a sua evolução.
Sete arcanjos se revezam na liderança de cada um destes ciclos:
[PLANILHA]
Rudolf Steiner, em seu empenho de renovação da sabedoria antiga, refere-se a esta nova regência de Micael como uma nova missão: garantir que o amor que permeou a criação do universo continue vivo no coração humano. Micael é um nome da tradição judaico-cristã, Micha-El que significa:
“O SEMBLANTE DE DEUS, A FACE DE DEUS OU QUEM É COMO DEUS.”
Na nossa época as ameaças ao desenvolvimento saudável são grandes. Aaron Antonovsky, o médico israelense criador da abordagem de saúde conhecida como Salutogênese (bases da saúde), quis saber porque algumas pessoas em situação de extrema demanda conseguem se manter com o espírito alerta, motivadas, se adaptam às mudanças, conseguem se recuperar rapidamente dos embates e superar o stress. A espiritualidade foi um dos principais fatores que ele encontrou em seus atendimentos clínicos de sobreviventes dos campos de concentração. A sua resiliência era consolidada quando a pessoa tinha uma aliança interna com forças divinas.
O filósofo e escritor Gilbert K Chesterton, através do tema dos contos de fadas, fala poeticamente desta aliança espiritual que desenvolve a coragem frente ao medo.
“Os contos de fadas não são responsáveis por desencadear o medo nas crianças. Os contos de fadas não criam na criança a ideia do mal. Isto já está na criança porque isto também já se encontra no mundo. Os contos de fadas não dão origem na criança à primeira imagem do dragão. A criança conhece intimamente o dragão, desde os primórdios de sua imaginação. O que os contos de fadas trazem para a criança é a força micaélica que mata o dragão. O conto de fadas provoca uma sucessão de imagens claras e a concepção de que temores extremos têm limites, de que seres sombrios são combatidos nos reinos divinos. De que existe algo no universo mais poderoso do que o pior dos medos”.
João Guimarães Rosas, em Grande Sertão Veredas, fala da aliança sertaneja com as forças divinas, pela boca do jagunço Riobaldo:
“Reza é que sara loucura. No geral. Isso é salvação da alma. Muita religião, seu moço! Eu cá não perco ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio. Uma só, para mim é pouco, talvez não me chegue.”
Os nossos antepassados olhavam para o universo em busca de inspiração para o desenvolvimento. Nós, hoje, olhamos para dentro. O que nos torna humanos é a consciência de si. O escritor norueguês Karl Ove Knausgärd, no quinto livro de sua autobiografia, fala sobre o nosso lugar interno inalcançável, onde ninguém consegue chegar. É acessível apenas para cada um, é um lugar sagrado e solitário, onde só eu existo e ninguém conhece o caminho que leva até lá. É neste lugar que acobertamos muitas das nossas histórias e seguimos pela vida com vergonha, porque as nossas experiências não atenderam a certos padrões estabelecidos pelo sistema vigente: não ter enriquecido, não ter feito pós-graduação, não falar inglês, ter interrompido a carreira para se dedicar aos filhos, não se sentir criativo, não se sentir vitorioso. As frustrações não têm fim. Neste lugar, tão vulnerável, é onde é possível fazer uma nova aliança com as forças favoráveis ao próprio desenvolvimento.
Ampliar a consciência para conhecer quais as forças evolutivas que acompanham a trajetória biográfica individual, conduz os passos de uma pessoa na direção para que ela possa desenvolver todo o seu potencial de vida. Ser quem ela é.
SUA HISTÓRIA DE VIDA É SAGRADA.
AMOR.BIO.BR
COPYLEFT © 2019 DIAGRAMAÇÃO A.MOR BIOGRAFIA HUMANA
COPYLEFT © 2019 CITANDO O AUTOR
TEXTO DE AUTORIA DE EDNA ANDRADE
FOTOS: UNSPLASH
LOUSA: CHARLOTTESVILLE WALDORF SCHOOL
ESCULTURA: ALBERT GIACOMETTI CITAÇÕES:
* K. O. KNAUSGÄRD
** PASSEIOS ATRAVÉS DA HISTÓRIA À LUZ DA ANTROPOSOFIA (LANZ, RUDOLF)