Homem e mulher – a integração como caminho de desenvolvimento

Uma das obras da Dra. Gudrun Burkhard que mais conversou comigo e que mais me ajudou com os meus desafios no momento em que eu a lia, é a “Homem e mulher – a integração como caminho de desenvolvimento”. Essa obra elucida a importância de integrarmos os nossos lados femininos e masculinos internos e de prestarmos atenção enquanto estamos nos relacionando. Assim como na biografia individual, também no relacionamento existem fases e ritmos – acompanhados de crises que exigem reestruturação ou mudança.

Como o livro bem traz, só um Eu inteiro é capaz de se unir harmonicamente à outro Eu inteiro. Enquanto buscarmos alguém que nos complemente ou que satisfaça as nossas faltas, estaremos fadados à relacionamentos tóxicos. Somos guiados durante a leitura com essa questão essencial da alma da consciência: “Como fortificar meu cerne, meu núcleo, minha individualidade, e ao mesmo tempo desenvolver tolerância, altruísmo e amor pela essência do outro?”

A busca por autoconhecimento e por autodesenvolvimento é crucial para nos relacionarmos bem, não sem desafios porque isso é inerente a qualquer tipo de relacionamento, mas de uma maneira em que ambos cresçam juntos. Claro que a fase do relacionamento conjugal é única e exclusiva de cada casal, mas há um estudo profundo da biografia humana que traz à luz da consciência essas tendências por meio das leis biográficas. Trata-se de uma ciência humana e não exata.

Cada setênio, com os seus desafios e as suas crises – impulsos de desenvolvimento – que cada um do casal se encontra, também impacta na fase da relação conjugal. É uma soma de fatores. Ela relata até o sexto setênio da relação que é aproximadamente quando as pessoas estão com 63 anos ou mais, fase em que os estudos foram mais aprofundados.

Nesse momento em que estou casada há 10 anos e me relaciono há 15 com o meu marido, consegui nos ver em várias passagens e entender o significado das nossas crises e questionamentos. Há um romantismo exagerado quando falamos em relacionamentos e quando leio uma obra como essa, me traz para o meu eixo, para o real e me questiono qual é a minha participação na construção desse relacionamento a dois. Também me ajudou muito a apoiar os questionamentos e incômodos dos meus clientes, já que atuo com aconselhamento biográfico, mas também com coaching.

Tem um conto que sempre cito para os clientes e que traduz muitos os conteúdos desse livro: o da donzela e do cavaleiro internos de cada pessoa. A donzela é responsável por tudo o que corresponde ao mundo interno: ela cuida da alma do lar, mantém a chama acesa para deixar o ambiente quentinho, faz comidas deliciosas para deixar o aroma gostoso, passa menta fresca na mesa para proporcionar refeições saborosas. Já o cavaleiro é responsável pelo mundo externo: ele sai para caçar dragões e ouvir notícias do que está acontecendo ao redor.

Ele precisa voltar, tirar a sua armadura e se deixar ser cuidado pela donzela. Assim, ele recebe os cuidados necessários para se reestabelecer, enquanto conta sobre o que viu no mundo do dragões e a donzela troca com ele sobre o mundo interno.

O perigo desse conto é quando o cavaleiro se perde no mundo dos dragões e a sua armadura vira a própria pele. Ele não volta para o lar e a donzela se perde no mundo interno sem a troca com o cavaleiro.

Quero saber de você:
Em que momento do conto estão a sua donzela e o seu cavaleiro?
Que espaço você precisa abrir para cada um deles?
Como permitir que eles dancem harmonicamente dentro de você?

Para ajudar nessas reflexões, finalizo com esse poema do livro: Desafio.
Como posso eu ser ainda mais eu por estar contigo?
Como podes tu ser ainda mais tu por estares comigo?
Como podemos, juntos, ser ainda mais cada qual do que seríamos se
estivéssemos separados?
Ou será que para estar contigo terei de renunciar um pouco a mim mesmo?
E para estares comigo terás de renunciar um pouco a ti mesmo?
Só nos unirá, amor, o que nos permita separar-nos;
e só nos apartará o que nos obrigue a juntar-nos,
porque nossos destinos podem ser diferentes.
(Por isso nos encontramos?)
Assim,
só o amor pelo destino do outro
poderá transformar o meu e o teu amor
no nosso amor.

Kleber Nascimento
Artemisia, 6.12.91
(Inspirado numa palestra da Dra. Gudrun Burkhard)

Marisa Bussacos  Associada ao EcoSocial. Atualmente realiza atendimentos individuais de Coaching e Aconselhamento Biográfico, conduz palestras e facilita grupos e workshops de Desenvolvimento Humano para empresas diversas.
Em trabalhos recentes atuou como facilitadora em um programa com o objetivo de desenvolver um ambiente de negócios regenerativos a partir da construção de relações de confiança e
diálogos verdadeiros entre os diferentes atores da Mata da Várzea, bairro em Recife. Também atuou em um programa na Norsk Hydro de Fortalecimento de Lideranças comunitárias em
Barcarena, Pará.
Trabalhou com a capacitação e melhora da autoestima de tecelões na Índia e análise da cadeia de valor da empresa Jaipur Rugs, que se tornou case no livro “Empresas que curam”.
É professora da disciplina “Conversas de Coaching” no MBA de Gestão de pessoas e projetos da
USP/Esalq. Realizou palestras e gravou cursos sobre a importância das histórias de vida para os
alunos do MBA. Foi também palestrante do Hacktown com esse tema.
Coach formada pela Escola de Coaches do EcoSocial e certificada pela ICF. Aconselhadora
Biográfica pela Associação Sagres/International Trainers Forum-Goetheanum (Suíça).
Graduada em Propaganda e Marketing pela ESPM, com formações em Comunicação
Não-Violenta, Facilitação de mudanças pelo Programa Germinar e Empreendedorismo
Feminino pelo 10.000 Women.
No início da carreira, fez parte da área de Branding e Publicidade na Natura.
Empreendeu a Ekoa Café, um espaço cocriado para nutrir relações. Criou o Café Compartilhado, formando uma rede de gentilezas entre os frequentadores, o que se tornou pauta de muitas matérias.