
Um texto sobre comunidade.
“Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles”. Mateus 18:20
Sob um ponto de vista antroposófico, conforme vamos vivendo, completamos nosso desenvolvimento: primeiro o físico, depois o anímico e depois o espiritual. Nosso corpo e nosso espírito, bem como a natureza e tudo o que está presente no mundo e que não foi feito pelo ser humano, seguem as leis espirituais, nossa alma, não. Nossa alma é paradoxal, cheia de idiossincrasias. Segundo Arthur Koestler, somos capazes de prever onde a estrela Sirius estará em 1 milhão de anos, mas não somos capazes de saber onde a alma alheia estará nos próximos 5 minutos!
E é a alma mesmo quem cria essa realidade paradoxal em que vive, pois precisa desses desafios para se desenvolver. Ela se cria e se molda, ao mesmo tempo, através de suas forças fundamentais: pensar, sentir e querer. No entanto, temos um caminho de desenvolvimento individual, e um caminho de desenvolvimento social. A esse desenvolvimento individual, Bernard Lievegoed chama de “Caminho da Lua” . Nele, o ser humano se torna consciente de seus processos internos e os manifesta, através dos seus atos, no mundo exterior. Já no“Caminho de Saturno”, o indivíduo conecta seu destino ao da comunidade à qual ele faz parte. Através da responsabilidade que o indivíduo assume na ou pela comunidade, ele se desenvolve e ajuda outros seres humanos a se desenvolverem. Afinal, é no contato com o outro que a nossa alma tem a oportunidade de se conciliar de forma nova e consciente. Assim, indivíduos que compõem uma comunidade e, a própria comunidade em si, podem chegar ao seu próprio destino.
A missão da nossa alma é trazer a liberdade como valor humano. Uma alma que consegue, apesar de sua essência paradoxal alcançar uma moral superior, consegue ajudar a formar uma comunidade com tais características e vice-versa. Assim, a partir desse desequilíbrio anímico, somos impelidos a buscar novos equilíbrios possíveis que, por sua vez, gerarão novos desequilíbrios. Essa busca nos leva a nos relacionar com outras pessoas. Quando essas pessoas têm ou buscam algo em comum, é possível formar uma comunidade.
A palavra comunidade tem origem no latim communitas, que significa “comunidade” e “companheirismo”. Deriva de communis, que quer dizer “comum”, “geral”, “compartilhado por muitos” ou “público”. A origem remete a uma ideia de pertencimento e de algo que é compartilhado, um sentimento de “estar junto” ou “ter algo em comum”. No entanto, tal sentimento pode ser difícil em nossa época atual, pois precisamos desenvolver a Alma da Consciência.
A Alma da Consciência, para ser desenvolvida, requer que tenhamos uma certa noção de individualidade, de que somos um indivíduo. E, para isso, precisamos nos isolar de certa forma. Na biografia humana individual, esse desenvolvimento acontece entre os 35 e 42 anos, fase também conhecida como 6° setênio. No setênio anterior, de 28 a 35 anos, desenvolvemos a Alma Intelecto-Afetiva ou da Índole e da Razão que, em nível de Humanidade, se deu no na Época Greco-Romana entre 747 a.C. a 1413 d.C.. Segundo Rudolf Steiner, a gente não precisava nem se aproximar e nem conviver muito com outra individualidade para absorver o que ela tinha para nos oferecer. Atualmente, como precisamos desenvolver um pensar vivo e a nossa liberdade também precisamos de situações que façam com que seja necessário nos aproximarmos de outros seres humanos com interesse genuíno e verdadeiro.
Quando pensamos assim, a ideia dos encontros e da permanência, ou não, de determinadas pessoas em nossa vida, muda completamente de figura. Afinal, num mundo com mais de 8 bilhões de pessoas, porque encontramos e convivemos justamente com essas? Que tipo de trocas devemos fazer? O que temos para dar? O que precisamos receber? É aí que compreendermos a importância de descobrirmos qual pergunta carregamos em nossa alma!
No instante em que entendemos que há um certo questionamento interno, procuramos evitá-lo, nos distraímos com outras coisas, com outras pessoas, até que a mesma pergunta se apresenta de novo. Com o passar do tempo, percebemos que é preciso carregar a pergunta, suportar a possibilidade de não saber respondê-la de
pronto. Muitas vezes, a impossibilidade de uma resposta nos leva a pensar, sentir e querer coisas antes inimagináveis. Mudamos de lugar, encontramos novas pessoas, lapidamos a pergunta, mas ela, muita vezes permanece ali. Assim, esse tipo de questionamento que vem da alma, pode nos servir de guia. Quando nos debruçamos sobre a história de vida do outro, de certa forma nos desviamos de nossa pergunta. No entanto, não é incomum que muitas vezes seja através do outro que venha a minha resposta, a compreensão ou lapidação da minha pergunta. Como diria Adriaan Bekman em seu livro “A arte de viver consciente”: Tudo aquilo que é criado por um ser humano torna-se uma pergunta e eu ousaria completar que as respostas estão na comunidade! Pois compreendo que a minha pergunta é a base para o meu caminho pessoal de iniciação na realidade social. Afinal, comunidades costumam ter as mesmas perguntas!
Assim, nessa dança de encontros e desencontros vamos nos movendo interna e externamente para encontrar o que verdadeiramente precisamos para o nosso desenvolvimento. Muitas vezes não insistimos em encontros que seriam riquíssimos para nós por serem permeados por um sentimento de antipatia. Segundo Steiner, não deveríamos nos deixar levar por sentimentos de simpatia ou de antipatia. O que deveria nos mover, nesse sentido, seria a capacidade de perceber o outro e, através dele, nos perceber. Além disso, ele diz que sem a compreensão da Antroposofia como uma Ciência Espiritual, fica difícil assimilar a importância e a magnitude dos encontros. “E somente quando uma pessoa se relaciona com outras a partir de seu íntimo é que se pode desenvolver a alma da consciência” (Rudolf Steiner em “Carências da Alma em nossa época”). Dessa maneira, fica fácil perceber porque em nossos tempos, muitas vezes nem pais e filhos, ou irmãos e irmãs conseguem se entender! A vida e seus encontros são oportunidade de desenvolvermos e superarmos, em certa medida, nossa individualidade. Afinal, a partir dessa dificuldade de compreensão mútua, somos capazes de desenvolver compreensão social consciente. Somente quando cada um se perceber e se compreender como indivíduo será possível compreender qual é o seu papel no social. O que eu tenho para dar? O que eu preciso receber? Onde encontro o que preciso? Com quais pessoas devo ou preciso me relacionar?
Somente quando compreendemos o desenvolvimento humano com profundidade somos capazes de compreender tudo isso. E é justamente aí que entra o Aconselhamento Biográfico! Afinal, a partir das Leis Biográficas somos mais capazes de compreender nosso desenvolvimento e nossas limitações, bem como os das pessoas que nos cercam. Há uma certa chance de superação de sentimentos de simpatia e antipatia, além da compreensão do carma através de nossos encontros. “O desenvolvimento da alma da consciência exige liberdade de pensamento, mas esta só pode florescer numa aura ou atmosfera toda especial” (idem ibidem). Cada alma enfrentará os desafios necessários ao seu desenvolvimento e é parte do nosso trabalho ajudar as pessoas a se aproximarem do sentido e do significado de seus sofrimentos! Através do Aconselhamento Biográfico, podemos ajudá-las a compreender qual é a carência anímica da nossa época! Quando conseguimos compreender as exigências da nossa biografia e da nossa época, podemos agir de acordo e o sofrimento pode ser mitigado. Devemos relatar, o mais possível, as diversas maneiras de se desenvolver na nossa época. Quando estudamos as Leis Biográficas e como elas se aplicam a cada indivíduo, podemos compreender as possibilidades de desenvolvimento da Humanidade e compreender que, apesar de sermos todos diferentes, temos algo em comum que nos torna humanos. Quando conseguimos alcançar esse pensamento, compreendemos que o que nos une é o Cristo, pois cada um carrega em si um pouquinho dessa centelha divina. Assim, os anjos, lá do céu, são capazes de nos ver como pontos de luz. Compreendemos também que a Humanidade é formada das pessoas que estão encarnadas e das que estão no mundo espiritual e que o nosso desenvolvimento contribui para o desenvolvimento das demais hierarquias! São muitas comunidades envolvidas no desenvolvimento de muitas outras comunidades!
Certa vez, Orna Ben Dor disse que “Cada sofrimento superado se transforma em uma pérola. Cada mácula transforma-se em luz. E é assim que transformamos a escuridão em luz, porque quando a luz chega, a escuridão vai embora.” Em comunidade, podemos servir de Menina da Lanterna uns dos outros: quando minha luz se apaga, além do Cristo, com quem posso contar? Como ajudo as pessoas a encontrarem sua própria luz? Essas perguntas nos ajudam a entender porque fazemos parte das comunidades que fazemos parte. Pessoalmente penso que nós, aconselhadores biográficos, ajudamos as pessoas a transformarem escuridão em luz!
Aconselhadora Biográfica, Psicóloga, Professora, Escritora e Palestrante.
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