Brasilidades e o Aconselhamento Biográfico
O que faz do brasil, Brasil? Antropólogos como Roberto da Matta se debruçam sob esta pergunta. E as respostas não se exaurem. Já nós, Aconselhadores Biográficos, contribuímos para que nossos clientes cheguem às respostas do que fez e do que faz com que eles sejam um “Eu” único e insubstituível no seu sistema familiar e na esfera social em que transitam. Atuar com biografias é operar com contextos ricos, complexos e mergulhar em variáveis como etnias, culturas e fatos históricos que permeiam a existência. Não se consegue um bom mapa de vida se não olharmos também para os “mapas” do País, Estado e cidade de origem do nosso biografado para considerarmos os aspectos sócio culturais da sua história. Desta forma, olhar para brasileiros ou para quem vive aqui, implica em considerar o Brasil e sua biografia como país, mesmo que de forma tangencial.
Cada continente e tempo histórico compõe cenários biográficos peculiares e distintos. No nosso caso, brasileiro que somos, as dimensões continentais do nosso país dão ambiente para muitas culturas, dentro do que seria uma cultura única. Cultura forjada por muitas lutas, disputas por territórios, imigrações, características geológicas, fenômenos socioeconômicos e uma miscigenação que se mostra linda e desafiadora, nestes mais de 500 anos de descobrimento, associados aos não contados séculos de existência anteriores a este fato histórico.
Em 2023, ano do seu 23º aniversário, a ABAB se propôs a concretizar um olhar sobre as “Brasilidades” que circundam os diferentes Aconselhadores Biográficos atuantes e residentes nas cinco regiões do nosso país. O objetivo era gerar um encontro para mostrar e pensar em como o Aconselhamento Biográfico acontece no Brasil que, inclusive, foi o berço da Metodologia Biográfica. Queríamos também revolver a memória, tratar da história da Associação, dar espaço às experiências práticas dos profissionais que fazem o Aconselhamento acontecer nacionalmente e abrir uma agenda para que as Escolas de Formação ativas no Brasil, pudessem, também, apresentar sua biografia, metodologias e currículos de formação.
Há um ano atrás, nos dias 22, 23 e 24 de setembro tudo isso aconteceu. A cidade de Florianópolis foi palco para que doze Aconselhadores apresentassem seus cases, estendendo seu conhecimento e experiência a uma plateia atenta e calorosa que acompanhou presencial e virtualmente a programação do Evento. Diferentes temas foram apresentados, gerando aprendizado relevante para nossa comunidade; foram eles: Biografia para Casais, Financeira, Festas Cristãs, Bordado Terapêutico, Genograma, Fio Vermelho & Violeta, Qualidades Planetárias, Cosmovisão Tupi Guarani e Oficina Biográfica inspirada em Matilda Canossa. Permeando a programação, a arte sempre esteve presente. Certamente a musa da música inspirou a curadoria do maestro Rafael Camorlinga, seus músicos e o Coral de pais da Escola Waldorf Anabá. A seleção de repertório, embora difícil pela amplitude, foi perfeita. Os participantes do evento fizeram coro aos artistas e as melodias das cinco regiões do Brasil trouxeram movimento à plateia. Os corpos físico, vital e anímico também foram alimentados pela rica seleção da musicalidade puramente brasileira. Sim, mais uma prova de que somos natureza e cultura.
Paralelo às apresentações de conteúdo e arte, sotaques entoavam encontros entre os Aconselhadores, que aconteciam organicamente. Muitas conexões foram possíveis. Além dos Workshops que ocorriam simultaneamente, a programação reuniu em três momentos todos em uma pauta comum. Assim, a Palestra “Descobrindo a Alma Brasileira”, conduzida pelo nosso então vice-presidente Luiz Henrique Santana e inspirada no livro – A missão das almas dos povos de Rudolf Steiner, foi um dos pontos de destaque, respondendo muitas questões, trazendo uma série de insumos e deixando novas perguntas. O Painel “Qual o futuro do Aconselhamento Biográfico no Brasil”, conduzido magistralmente pela Zilda Andrade, Diretora da ABAB na Gestão 21/23 e pela nossa atual Diretora Presidente Ângela Vega- Gestão 23/25, foi marcante e sustentou um espaço para que nossos Associados pudessem pensar sobre nossa profissão e sobre o coletivo que a ABAB representa. Da sistematização das informações trazidas, desdobraram-se Grupos de Trabalho que em 2024 atuam em encaminhamentos e ações de continuidade.
O objetivo de gerar um encontro de estudo e práticas sobre Aconselhamento Biográfico, a fim de mostrar o(s) jeito(s) de fazer Aconselhamento, que mistura o rigor do método e a cultura de um país continental, foi plenamente atendido. Os ricos e espontâneos depoimentos no encerramento, e os escritos nas avaliações, mostraram o êxito daquele projeto. O índice de satisfação plena atingiu a marca de 97,4% para o público presencial e de 72,7% para o público online; já quando perguntados sobre as expectativas, registraram que foram superadas para mais de 60% dos presentes e para quase 30% do público online, conforme resultados da pesquisa, após o evento.
O Brasilidades – Primeiro Encontro Nacional sobre Prática e Pesquisa em Aconselhamento Biográfico, além de conhecimento, gerou uma conexão genuína, alimentando o senso de pertencimento e comunidade.
Pudemos conhecer, reconhecer, registrar e difundir linhas de trabalho e de pesquisa que acontecem no solo brasileiro, reafirmando para nós mesmos o Brasil como um polo importante para a sedimentação do trabalho com biografias com base antroposófica.
Fizemos, ainda, uma homenagem à Dra. Gudrun Burkhard, autora da metodologia biográfica, reverenciando sua biografia e legado.
E se esse primeiro Encontro Nacional trabalhou com histórias e experiências, também contribuiu para que novas memórias fossem geradas. Alimentados por essas trocas e conexões, como Associação e Associados, seguimos melhores e mais fortes na nossa genuína brasilidade.
Silvia Souza
Pedagoga, Aconselhadora Biográfica e Consultora de Desenvolvimento Humano
