O Aconselhamento Biográfico é um processo terapêutico que tem como objetivo geral o fortalecimento da individualidade humana a partir da nossa própria biografia, da nossa história de vida.
A base conceitual deste processo é a Antroposofia, ciência espiritual cunhada por Rudolf Steiner. Nos apoiamos nos setênios, grupo de 7 anos. Cada uma destas etapas possui arquétipos característicos que nos “comunicam”, não só as características, mas também os desafios de cada fase.
Podemos analisar nossa biografia de forma panorâmica, ou seja, nos dedicando a todas as áreas de nossa vida; ou podemos ampliar nosso foco em algumas áreas específicas, dentre elas: as relações, a profissão, a saúde, o dinheiro etc…
O foco aqui será o dinheiro e o patrimônio. E estes temas serão abordados de maneira ampla. Será um sobrevoo sobre a nossa biografia de maneira panorâmica. Me comprometo a escrever mais detalhadamente sobre o tema em novos artigos.
Tomamos como pano de fundo o fato de sermos seres espirituais que estamos vivendo uma fase material, encarnada, de nossas vidas. Neste sentido, aprender a lidar com questões materiais é fundamental para nossa evolução.
O dinheiro é considerado o sangue que flui e permite a nossa vida aqui na Terra. As perguntas essenciais que poderíamos citar são: Como o dinheiro flui em minha vida? Como meus pais lidavam com o dinheiro? Eu recebi alguma herança de meus antepassados? Como meus avós lidavam com o dinheiro? Eu me senti oprimida pelo dinheiro em alguma fase de minha biografia? Eu reconheço que oprimi alguém através do dinheiro? Que crenças carrego comigo sobre o dinheiro e o patrimônio? Qual é o papel do patrimônio em minha vida? A escolha da minha profissão foi influenciada pelo dinheiro… dentre outras.
Ao olharmos o rio da nossa vida, iniciamos no primeiro setênio, período que vai do nascimento até os 7 anos de idade. Nele, o seio familiar é o local mais fértil para nossa evolução. É justamente nele que iniciamos nosso aterrissar no Planeta Terra. Neste momento podemos nos encontrar com nossas crenças. Entendemos crenças como uma “verdade absoluta” que nos é fornecida pelo mundo externo e que ocupa lugar em nossa alma e atua de forma a não termos consciência delas. Em geral elas vêm de frases que ouvimos com frequência. Alguns exemplos de crenças:
Na maioria das vezes elas vêm carregadas de carga negativa e, de forma inconsciente, seguimos nossa trajetória com base nelas. Por exemplo, se acreditamos que nosso dinheiro só vem com o suor do nosso rosto, como imaginam que poderíamos fazer o nosso sustento de forma leve e feliz?
Algo da nossa cultura também nos impacta. Aqui posso citar algo característico da nossa língua portuguesa. Por aqui, dizemos “ganhar” dinheiro, “ganhar” salário; já na língua inglesa o verbo utilizado é “fazer” dinheiro. Gostaria de convidá-los a acompanharem meu raciocínio… quando trabalhamos um mês inteiro e recebemos nosso salário, vocês acreditam que estão ganhando algo ou que merecem este pagamento? Para mim é claro que eu ganho presentes, no caso da minha remuneração por um serviço prestado, eu fiz este dinheiro, eu empenhei minhas capacidades, minhas habilidades, meu expertise em algo; eu entreguei algo ao mundo, neste sentido, é meu direito receber por ele.
Quando avançamos ao segundo setênio, cujo mote é “o mundo é belo”, dos 7 aos 14 anos; podemos refletir sobre como percebemos o papel do dinheiro em minha família. Havia algum constrangimento com o tema? Ele era discutido abertamente em casa? Eu recebia mesada? Eu tive a oportunidade de me experienciar fazendo meu próprio dinheiro? Eu era encorajada a fazer isso? Meu ambiente escolar era condizente com as posses da minha família? Eu me sentia privada de eventos escolares e sociais por falta de dinheiro? Como eu lidava com meus colegas que, porventura, tinham menos do que eu? Eu me comparava com meus colegas? Enfim, aqui existem infinitas possibilidades de reconhecimento dos sentimentos que permeiam esta etapa de minha vida.
A vivência do mundo verdadeiro, no terceiro setênio também é uma ótima oportunidade de colhermos informações sobre a minha relação com o dinheiro. Um exemplo de verdade do mundo, é que podemos ganhar um carro ao fazermos 18 anos, sem dúvida; no entanto, o carro precisa de manutenção, seguro, combustível etc… Este momento é como se fosse “um portal” para o mundo dos adultos; já que estamos finalizando a estrutura do nosso EU. Dos 21 anos em diante, adentramos no mundo dos adultos. Seria ótimo que tivéssemos a oportunidade de vivenciá-lo em toda a plenitude; com suas vantagens e também as “desvantagens”, com todos os benefícios e também com todas as suas responsabilidades.
O período dos 21 aos 42 anos é conhecido como o verão da vida. É a fase mais material que temos em nossa biografia; momento no qual a curva da espiritualidade está mais baixa e a curva do desenvolvimento material está mais ampliada.
FIGURA 1: Curvas do desenvolvimento humano.
Neste período, com total vitalidade, estamos repletos de energia e sedentos por desbravar o mundo. É um período no qual vivemos uma série infinita de papeis; Somos filhos(as), somos pais ou mães, alunos(as), profissionais, líderes, donos(as) de casa, provedores(as), maridos, esposas etc… Nós temos que construir a nossa vida material, queremos estruturar nosso patrimônio, queremos cuidar da nossa família. É uma grande fase de expansão e é muito bom que seja assim, somos jovens e temos disposição e energia para tanto. Toda esta vivência material nos ensina muito. É claro que nos deparamos também com grandes desafios. É uma fase na qual podemos nos reconhecer materialistas ao extremo, focarmos nos dinheiro apenas e não reconhecermos o papel espiritual do dinheiro. Se estivermos atentos aos nossos comportamentos e soubermos pedir ajuda, conseguiremos passar por estes desafios de forma lúcida e aprendermos com eles.
É possível que nesta fase, consigamos fazer mais dinheiro do que é necessário para vivermos. Quando isso ocorre de forma natural, não há com o que se preocupar, basta lidarmos com o excedente como o dinheiro dos sonhos. Aquele dinheiro que “sobra” e que posso poupar para usar no futuro. Este uso pode ser para ampliar meu patrimônio, como por exemplo quitar meu imóvel, para investir em viagens culturais, ou para realizar aquela especialização mais cara que ainda não consegui fazer, para tirar meu ano sabático etc…
Outro tipo de dinheiro que surge aqui é o dinheiro dourado ou de doação. Quando temos excedente podemos doar parte do nosso recurso financeiro para apoiar pessoas na realização do propósito deles; apoiar instituições ou iniciativas que precisam de apoio financeiro.
Assim como na natureza, a estação que vem depois do verão é o outono. E é assim também que chamamos a fase dos 42 aos 63 anos de idade, o outono da vida. Quando falamos em outono, que imagens vêm à mente de vocês? Na minha mente vêm dias lindos, com uma luz diferente que irradia a beleza do mundo, mas não ofusca. As árvores ganham novos coloridos e perdem as folhas. São dias nos quais, à sombra, preciso de uma malhinha, mas no sol, me sinto aquecida e confortável. Sinto que meu entorno fica “mais calmo” é como se apenas o necessário fosse feito, não vejo nem a abertura do verão, nem o recolhimento do inverno, nem a exuberância da primavera… vejo apenas o suficiente sábio do outono.
Com base nesta analogia, seguimos para a nossa relação com o dinheiro e com o patrimônio. Nesta nova fase, a sabedoria é o norte. Nós passamos a usar nossa energia de forma mais inteligente, sob o meu ponto de vista. Nossa sabedoria nos amplia a visão e percebemos que é melhor ter paz do que ter razão. Escolhemos, com lucidez, quais são os embates que queremos travar. Agora, podemos desfrutar mais e melhor do nosso patrimônio, ampliá-lo, já não é mais tão importante.
Como nossa força física já está diminuindo, o mais saudável seria reduzirmos nossa carga de trabalho e darmos espaço para lidarmos com o necessário apenas. O ideal é reduzirmos nosso patrimônio em direção ao que é apenas suficiente para nós. Em geral nossos filhos já seguem o caminho deles; já não precisamos mais de tantos quartos em casa. Todos sabemos o quanto é custoso, física e materialmente, cuidar do nosso patrimônio. É o momento de nos dedicarmos ao essencial, à redução de nossas responsabilidades materiais e é justamente por isso que esta fase é precedida pelo verão da vida. É lá que deveríamos construir este momento mais pleno da nossa existência. Ter a tranquilidade para nos cuidarmos com mais tranquilidade; reduzirmos a velocidade que, anteriormente, era tão necessária. O desapego é um ótimo aprendizado para esta fase. No entanto, tudo que escrevi anteriormente não significa a incapacidade de atuação no mundo, em absoluto. A questão aqui é podermos atuar a partir do nosso propósito e não pela necessidade de nos mantermos a qualquer preço com nossa força de trabalho. Pelo contrário, nossa sabedoria nos coloca em um lugar de destaque e nossa experiência de vida nos fortalece.
A partir dos 63 anos, seguimos livres das leis biográficas, a liberdade amplia nossas possibilidades e nos liberta das amarras da sociedade capitalista na qual vivemos. Agora é uma ótima oportunidade para abrirmos mão do cargo de diretores e nos aventurarmos no cargo de conselheiros, por exemplo. Analisar o cenário do alto, ter a visão do todo ampliada pela nossa experiência e pela nossa maturidade é o melhor da vida. Podermos descansar sabendo que nosso sustento está garantido por tudo o que construímos no futuro nos acalma e temos, finalmente, o tempo para nos alimentarmos animicamente de forma consistente e profunda, fato que, certamente, era muito difícil anteriormente.
Figura 2: Fases do relacionamento com o dinheiro.
Tânia Cristina Santos Matos
Aconselhadora Biográfica, Coach Financeira, Consteladora Sistêmica e Consultora. Desenvolve o Programa Biografia e Dinheiro desde 2017. Atualmente é conselheira fiscal da ABAB, já tendo atuado em outras duas gestões anteriores. É mestre em Pedagogia do Movimento do Corpo Humano e Especialista em recursos humanos.
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