Sonhar é preciso. Mas já aconteceu com você algo que, nem em sonho, você imaginaria ser possível? Pois é… eu nunca imaginei que um dia eu me sentaria numa abóbora, cercada de amigas, em meio a uma plantação biodinâmica, em um kibutz antroposófico, no Oriente Médio.
Kibutz são comunidades israelenses, criados em 1910, que tem como características: atividade agrícola, propriedades coletivas, igualdade social, meios de produção próprios, etc. Tendo estudado em colégio com alta frequência de judeus, essa palavra e seu significado não eram novidade para mim. Muitas de minhas amigas e amigos passavam uma temporada de férias, trabalhando nesses lugares. Na época, eu interpretava como uma colônia de férias diferente, pois eles iam para lavar banheiros, cozinhar, plantar e tantas outras atividades que me pareciam longe de serem divertidas para as férias. Também acordavam muito cedo!
Agora adulta e trabalhando como Aconselhadora Biográfica, escritora, interculturalista, tendo que estudar e me aprofundar nas vivências do Cristo (judeu), na biografia de Clarice Lispector (judia) e nos usos e costumes de distintas culturas para facilitar treinamentos para expatriados (muitos deles judeus), me surpreendi quando soube que tínhamos judeus antroposóficos. Mais ainda: judeus antroposóficos Aconselhadores Biográficos. Que eu seja justa aqui: eram todas mulheres e a grande maioria tinha sido treinada, orientada e inspirada por uma mulher gigante, a médica brasileira e mãe dessa profissão, Gudrun Burkhard.
Em 2022 o sonho de conhecer Israel se tornou realidade. A partir do momento em que os planejamentos começaram a acontecer, entrei em contato com Vera G. Klein (Aconselhadora Biográfica holandesa) para saber se tinha alguma Aconselhadora Biográfica com quem pudesse fazer contato. O nome de Dafna Dariel foi trazido pelos anjos.
Dafna, por si só, merece um artigo. Nascida em Israel, morou no Brasil por sete anos e fala português com um charmoso erre que arranha a garganta e lhe confere um toque especial. Ela foi a pessoa que me atendeu à meia-noite, quando enviei a primeira mensagem sem me dar conta do fuso horário.
O sonho israelense, que tinha dentro de si as amigas e Aconselhadoras Biográficas Cinthia Gomes, Edna Moura e Renata Hoffman – reunidas a partir do convite e do entusiasmo de Rubia Pellegrini -, alcançou uma dimensão surpreendente a partir do momento que Dafna pergunta se queremos conhecer o kibutz antroposófico. Fica bem claro, a partir disso, que sempre temos mais espaço para aprender e nos surpreender.
Dirigimos de Tel Aviv-Yafo em direção a um grupo de pessoas que já nos esperava em Harduff. Como boas brasileiras, chegamos atrasadas. Um problema com o carro nos ajudou a manter esse comportamento nada simpático da nossa cultura. Desculpas distribuídas, a ansiedade de todas era visível. Do lado das brasileiras, tudo era encantamento. O som do hebraico nos rondando, a beleza das instalações da comedoria, as peças artesanais expostas que são fabricadas no local e servem como geração de renda, os profissionais com necessidades especiais que participam ativamente da vida do local, a calorosa recepção e o delicioso almoço preparado com ingredientes da plantação biodinâmica cultivada no kibutz.
Após o almoço, assistimos a uma apresentação sobre Harduff, suas pessoas e as atividades que acontecem ao longo do ano. Experiências são únicas, mesmo quando vivenciadas em grupo, como foi o que aconteceu comigo, Cinthia, Edna e Renata. O que vimos e ouvimos gerou registros particulares.
Dentre a grande quantidade de estímulos e memórias que ter passado quase dois dias nessa região que propiciou, do alto da montanha onde se localiza, a visão das moradias de judeus, palestinos e beduínos – e um pôr do sol de tirar o fôlego – duas me chamaram a atenção.
A primeira é a gráfica, ou o espaço de artesanato em que os cadernos são confeccionados. Trabalhei muitos anos em uma gráfica e ver os papéis, sentir o cheiro da cartolina, tocar as folhas em branco que serão utilizadas pelos estudantes Waldorf do país inteiro, foi um pouco biográfico. Em Harduf são produzidos todos os cadernos das escolas Waldorf de Israel e os colaboradores também são portadores de necessidades especiais.
Este é o segundo aspecto que tocou o meu coração. Mais do que o fato de oferecerem oficinas diversas – cerâmica, costura, bordado, culinária -, de também acolherem crianças em situação de risco e de trabalharem inclusão de uma forma tão linda, a frase mencionada e que representa a relação entre os pertencentes a esta comunidade foi: nós é que nos adaptamos a eles.
Ao ouvir isso, um portal se abriu em meu coração. Com frequência ouço a respeito de adaptar o outro às minhas condições. Em Harduf, vi um movimento distinto daquele ao qual estou habituada. O movimento de caminhar em direção a quem precisa. De abertura. De reconhecimento do que se tem e de como isso pode ser oferecido a quem não tem e pode se beneficiar daquilo que eu ofereço.
E onde entra a abóbora?
Após termos passado o dia na companhia de Schlomit, Dafna, Iris, Hana e Pnina – e nos emocionado com a emoção delas, quando gravaram um vídeo para Gudrun -, conversado sobre o Aconselhamento Biográfico, como ele acontece e quais são as formações existentes no Brasil e em Israel, fomos convidadas a nos refrescar com um delicioso tchibum na piscina e a caminhar pelos arredores de Harduff.
Schlomit nos apresentou cada canto daquele lugar. Subimos, subimos, subimos… das alturas presenciamos o pôr do sol, cores que atestam a existência dos anjos e um silêncio que pode nos acalmar ou agitar. Para mim, que moro em outro continente e não vivencio o dia a dia entre palestinos e israelenses, o silêncio falava muito. Encerrado o dia, banho e cama! Estávamos exaustas.
O dia amanhece e Dafna nos leva até a horta para conhecermos o local de onde vem boa parte da comida consumida no kibutz. Somos apresentadas às agricultoras, às plantas, aos cães, às frutas exóticas e às abóboras. Enormes, lindas e que serviram para a foto que ilustra esse texto.
Aqui vale incluir um vexame. Meu, claro. Para visitar a horta meus trajes incluíram uma saia branca e as tradicionais Havaianas. Também brancas. E com glitter. Reparem na foto e respondam: de que cor ficou a minha saia depois disso tudo?
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