A Escola de Sombras e a Escola de Luzes no trabalho biográfico: qual o samba enredo da sua vida?

Usando como base o Aprendizado com o Destino, originado dos Sete Processos de Aprendizado e dos Sete Processos Vitais, desenvolvi uma abordagem mais compreensível para os clientes no trabalho com as sombras.

Uso a metáfora da “Escola de Sombras”, comparando-a com as escolas de samba e suas alas. Uma vez identificadas as sombras”, seguimos o trabalho com a escolha das sombras a trabalhar, e definir passos para isto. Como contraponto, identificamos a Escola de Luzes, qualidades internas que iluminam a biografia.

A REUNIÃO E O “ESQUENTAR” DA ESCOLA

Passo 1: Escolher e observar um acontecimento da biografia 

Conectado com a Respiração – o observar e perceber

O cliente escolhe um acontecimento biográfico que queira rever, entender mais um pouco ou que ainda não tenha sido completamente processado. Pede-se que narre o acontecido com detalhes, descrevendo o ambiente, as pessoas envolvidas e o fato em si. Para auxiliar, pode-se pedir que seja modelado em argila ou desenhado.

Fechada esta imagem, é importante descrever o que aconteceu imediatamente antes, e imediatamente depois do fato.  

Passo 2: trazer o evento para o contexto biográfico e a recorrência na biografia

Conectado com o Aquecimento – ligar-se, esquentar-se – ou seja, criar condições para a compreensão real do fato

Explorar o acontecimento: o que aconteceu internamente, qual o diálogo interno? Quais os sentimentos presentes? Qual o sentimento essencial?

Passo 3: elaborar; descobrir o significado das forças do destino

Conectado com a Nutrição: elaborar, interiorizar, formar a imagem do acontecido; absorver e diferenciar 

Buscar na biografia fatos similares que aconteceram, que provocaram o mesmo tipo de sentimentos.

Do mesmo modo, buscar fatos biográficos que despertaram sentimentos opostos, polares.

Passo 4: Aceitação, assumir a responsabilidade 

Conectado com a Segregação: individualizar, ampliar a imagem

Aqui, pesquisar as vozes internas, como soavam, o que diziam de quem eram essas vozes?

O que este acontecimento exigiu de mim? O que fiz, o que não fiz? 

Que aspectos, que características minhas assumiram o comando durante este acontecimento?  E nos similares a este ao longo da minha vida?

ENTENDER OS FIGURINOS E AS ALAS

Que figurinos vesti para enfrentar esta situação e situações similares?

Posso dar nomes com base nas qualidades destes personagens fantasiados?

Para ajudar, a pergunta: quem é a comissão de frente desta escola? Quando sou desafiado, o que faço? Brigo, fujo, me encolho, choro, paraliso?

Quem surge para tomar a frente? Que aspectos meus vem desfilar no enfrentamento dos desafios quando não eu estive/estou no comando?

E aos poucos se faz o exercício de ir nomeando esses “personagens”. Por exemplo: o brigão, o fujão, o coitadinho, o super-homem, a boazinha, a princesinha, a não-merecedora, o palhaço, etc.

Neste momento, é interessante organizar as alas da escola de sombras: quais as sombras que agem em conjunto que se dão as mãos e desfilam juntas? Por exemplo, a vítima, a boazinha, a coitadinha e a não merecedora? A diva, a prepotente e a brigona? Ou seja, as alas que se juntam para reforçar esse aspecto que precisa ser transformado? 

Será que eu consigo perceber quem é a sombra porta-bandeira, a que carrega a bandeira da escola? A que acaba sendo a matriz, ligada à minha dor essencial?

QUAL O MEU SAMBA ENREDO?

Elencadas as sombras, se pesquisa na biografia outros momentos onde elas se manifestaram. Isto é importante para o reconhecimento, a aceitação de que aquilo é meu, é uma parte de mim que precisa ser transformada.

Aí se pode entender o samba-enredo, quando separamos as sombras de acordo com as forças adversas que se manifestam: tenho mais sombras luciféricas ou arimânicas? 

Passo 5: exercitar-se e transformar a vida diária substancializar; transformar o duplo

Conectado com Manutenção: exercitar-se – repetição rítmica

Aqui as perguntas dizem respeito ao que preciso para fortalecer a parte de mim que precisa se transformar, se fortalecer? Preciso de ajuda? Que tipo de ajuda?

Consigo escolher alguma destas sombras para acolher, “conversar”, começar a trabalhar? Que verbo preciso aprender a conjugar na minha vida para diminuir as sombras e tomar o comando da minha vida?

O DESFILE DA ESCOLA DE LUZES

Aqui neste momento, é importante colocar um contraponto a este encontro tão difícil: o desfilar da Escola de Luzes.

Começa com a pergunta: que qualidades eu reconheço que realmente tenho, quais são meus pontos de luz, aqueles que foram ganhando brilho ao longo da minha vida, que surgiram da força amorosa do meu coração, do meu jeito de ser, das minhas experiências? 

Pede-se para o cliente, sem modéstia, listar estes pontos luminosos. E também para pedir a familiares e outras pessoas da convivência que listem de 3 a 5 pontos de luz, qualidades que notam na pessoa. 

Isto levantado, é sempre bom perguntar se o cliente reconhece este olhar do outro, e completada a lista, volta-se novamente para a observação na biografia: onde vejo essas luzes se manifestarem?

O ENCONTRO DAS DUAS ESCOLAS: QUANDO SOMBRA E LUZ SE ENCONTRAM

Neste encontro, comparamos as duas listas, as duas escolas.

Até agora, pela minha experiência, a lista da luz supera em muito a de sombras em 100% dos casos.

Cotejando as duas listas, o cliente começa a perceber o caminho da luz, e os recursos que já possui para minimizar as sombras e colocá-las na devida proporção, bem como as muitas ferramentas internas disponíveis para iluminar as sombras.

Começa a perceber, também, aquilo que transborda em si e que pode oferecer aos outro, ao mundo.

Então se seguem os passos 5, 6 e 7, relativos à Manutenção (exercitar-se e transformar a vida diária) lembrando de conjugar o verbo escolhido no seu dia a dia; ao Crescimento (tornar-se capaz/movimentar/ interiorizar a força, ou seja, fazer crescer e desenvolver nova percepção do destino) e Reprodução (criar algo novo, ou seja, pôr em ordem o destino, trans-substancializar). 

E seguindo a metáfora da escola de samba, tem-se a chegada à Praça da Apoteose, onde as escolas todas se misturam, e sem a pressão do julgamento, se entregam à alegria de dançar e desfrutar. 

Maísa Guapyassú 

Aconselhadora Biográfica e Contadora de Histórias