A arte sempre contribuiu para a evolução da humanidade desde tempos primórdios. Ela surgiu como uma ferramenta para que o homem, em harmonia com o mundo espiritual, pudesse compreender a si mesmo e sua relação com o mundo e a natureza a sua volta.
Até a Grécia Antiga, ainda existia uma união harmoniosa entre Religião, Arte e Ciência.
A partir do Renascimento, com o advento da Ciência Moderna e o incremento do conhecimento intelectual materialista, houve um crescente distanciamento entre o ser humano e sua dimensão divina.
Na história do desenvolvimento da humanidade, ao redor do ano 1413 d.C., foi o início da 5ª Época Cultural ou “Época da Alma da Consciência”, segundo Rudolf Steiner. Em um contexto de mundo cada vez mais fragmentado, controverso e ambíguo, em que os valores se encontravam em profunda transformação, foi quando o homem passou a ter a possibilidade da liberdade, do “livre-arbítrio” para trilhar seu próprio caminho de desenvolvimento espiritual.
Atualmente, cada um de nós, como indivíduo da “alma da consciência” diante das inúmeras possibilidades de escolha, pode vivenciar em si o limiar entre o bem e o mal (ordem e caos, luz e escuridão) como uma crise existencial ou mesmo como uma doença física ou emocional. Na busca em compreender “quem sou eu, de onde vim e para aonde vou” e qual é o seu papel nesse contexto social da evolução humana, em que velhos conceitos precisam morrer para que o novo possa surgir, o processo do Aconselhamento Biográfico acompanhado de arte pode representar um caminho de cura e de reconexão com a essência.
O desenvolvimento espiritual de cada ser humano ocorre nesse grande contexto de constantes mudanças. Na visão da Antroposofia, a atividade artística é um meio para que o ser humano possa alcançar a expansão da sua consciência, desenvolvendo as três qualidades anímicas da imaginação, da inspiração e da intuição, a fim de harmonizar pensamentos, sentimentos e ações.
Em meu próprio percurso biográfico, tive contato com a linguagem da arte já na primeira infância. Nossa mãe nos proporcionou, a mim e à minha irmã, a oportunidade de vivenciar diferentes modalidades artísticas.
Íamos a concertos de música clássica, óperas, teatro infantil, exposições de arte, etc. Um dos programas de fim de semana que eu mais gostava era assistir as peças da Maria Clara Machado no teatro Tablado da Lagoa.
Desde cedo, a arte entrou intensamente no meu dia a dia. Eu gostava de desenhar, recortar e experimentar livremente o uso das cores. Foi minha mãe quem me apresentou o primeiro kit de tintas e telas.
Por meio da arte, era como eu melhor me expressava, pois era uma criança extremamente tímida e introspectiva. O que eu gostava mesmo era de contemplar a natureza. E dotada de um temperamento melancólico, também era uma observadora do comportamento humano.
Aos 10 anos, ela nos colocou nas aulas de balé, inicialmente clássico e depois moderno, e daí minha vida se transformou completamente. Fui incorporando e desenvolvendo uma linguagem que me ajudou a reconhecer meus dons e talentos, aprendendo a me comunicar, com mais confiança e segurança, com o mundo a minha volta, por meio do meu corpo e, mais tarde na vida adulta, como artista plástica, pelos desenhos, pinturas e instalações.
Aos 17 anos, apesar da dúvida em fazer a faculdade de psicologia, decidi estudar arquitetura e artes, quando pude aprofundar diferentes linguagens criativas, percebendo paulatinamente o importante papel da arte no caminho da evolução da humanidade.
Quando finalmente veio a crise existencial dos 40 anos, a voz que ecoava de dentro do meu coração em trilhar um novo caminho profissional como arteterapeuta ressoava de maneira muito natural e verdadeira.
E então eu me perguntava: porque não me colocar à disposição do outro ser humano e apoiá-lo em seu caminho de autoconhecimento e autodesenvolvimento? A arte havia me transformado e eu poderia ajudar muitas outras pessoas a curarem seus aspectos sombrios e inconscientes, para poderem se desenvolver de forma verdadeira, bela e harmoniosa.
Assim, estudei inicialmente a Terapia Artística Antroposófica e depois complementei com os estudos do Aconselhamento Biográfico. Os fundamentos da Antroposofia fizeram todo sentido no percurso de alinhamento e aprofundamento da minha missão e propósito de vida.
Em diversas iniciativas associadas ao desenvolvimento humano, a arte está presente, apoiando o indivíduo da nossa época a desenvolver as qualidades suprassensíveis da alma humana, para que, no futuro, possa se tornar o ser da liberdade e do amor.
Enquanto os exercícios artísticos, no processo da Terapia Artística, são conduzidos pelo terapeuta, a partir de uma anamnese inicial, com o intuito de reequilibrar aspectos doentios e desarmônicos no âmbito espiritual, emocional e físico, no processo do Aconselhamento Biográfico, eles podem ser trazidos de forma mais livre, mas não menos sanadores.
No processo do Aconselhamento Biográfico, a arte ajuda a dissolver os “nós que nos amarram ao passado”, em que as feridas provocaram sofrimento e dor. E, por outro lado, traz imagens de um novo “vir a ser”, em direção a um futuro mais autêntico e verdadeiro, condizente com os anseios e desejos da alma.
A linguagem da arte é a linguagem do coração e por isso é tão essencial no caminho de autotransformação. Apesar da escrita e da fala também apoiarem o percurso terapêutico biográfico, é por meio das imagens artísticas, que algo a mais pode ser revelado ao cliente, durante o processo biográfico.
E cada modalidade artística, seja o desenho, a pintura ou a modelagem, tem objetivos específicos:
Um dos principais objetivos do desenho na Terapia Artística é o de trazer clareza e objetividade para um pensamento rígido e “engessado”. O desenho de formas ou desenho dinâmico, por exemplo, proporciona flexibilidade, ritmo e fluidez no pensar, deixando-o pensar mais “vivo” e próximo ao coração. No processo do Aconselhamento Biográfico, o desenho pode trazer mais clareza na observação dos eventos da biografia, principalmente quando observados na perspectiva dos espelhamentos.
Na pintura terapêutica, utilizando a aquarela ou o pastel seco ou oleoso, o cliente pode perceber como as cores movimentam a alma, equilibrando as emoções e os sentimentos. Nesse sentido, durante o processo do Aconselhamento Biográfico, ao trazer as imagens da atmosfera vivida em cada fase por meio das cores, o cliente pode colocar aspectos da vida que se encontram estagnados ou “aprisionados” em movimento. As pinturas dos setênios, por meio de gestos e cores, revelam a essência, a síntese e a tônica de cada fase da vida, que muitas vezes não podem ser expressas em palavras. Segundo a definição do pintor Paul Klee sobre a arte: “A arte não existe para produzir o visível, e sim para tornar visível o que está além”.
Na modelagem em argila, os eventos de dor e sofrimento, chamados de “feridas de alma” podem ser “metamorfoseados” e ressignificados, transformando o sofrimento e a dor em forças de resiliência e em substância de amor que impulsionam a força de vontade genuína no ser humano, permitindo que atue no mundo mais consciente de si e do seu propósito de vida.
Toda obra de arte, nesse sentido, é a ponte que mantém viva a conexão entre terra e céu, entre matéria e espírito, trazendo os ecos do passado e anunciando os sinais do futuro, do que está por vir.
Daniella Liu é terapeuta artística e aconselhadora biográfica, formada em arquitetura com especialização em história da arte. Atende em consultório particular, em São Paulo e Rio de Janeiro, e de forma virtual. É idealizadora de programas de desenvolvimento humano, associado à arte.
E atualmente participa de um programa multidisciplinar de educação e saúde na Associação Comunitária Monte Azul.
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