Pentekosté ou festa das colheitas acontecia no quinquagésimo dia após a Páscoa e significava grande alegria para os judeus antigos. Todos davam graças pela colheita do trigo e ofereciam as primícias das colheitas no templo, em Jerusalém… Mas, e para os discípulos de Jesus, o Cristo? Como eles se sentiam naquele primeiro pentecostes após a morte de seu Mestre?
Os discípulos, homens simples do povo, estavam vivendo
momentos de intensas e profundas transformações. A prisão e tortura de seu mestre conturbavam suas almas enchendo-lhes de medo. Após a consumação do martírio de Jesus no Gólgota, sua Ressureição e sua Ascenção aos céus, os primeiros discípulos, aturdidos por tantas vivências, certamente, sentiram-se desorientados. Sentiam que haviam perdido o contato com o Mestre…
Apesar da dor extrema, os discípulos seguiam unidos buscando se fortalecerem, tentando não fugir e se dispersar. Permaneceram em Jerusalém, conforme Jesus havia ordenado (atos 1,4-5). Então, passados dez dias da Ascensão (quando seu Mestre dissolveu a própria forma corpórea diante deles), e estando eles reunidos em profunda devoção (Atos 2,1), vivenciaram mais um momento de intensa força espiritual.
Os discípulos presenciaram, de repente, um “súbito e impetuoso vento” que se manifestou tanto fora quanto dentro da casa em que estavam e que soou como um “som de uma trombeta”. Naquele momento e ainda atordoados viram uma grande luz que se dividiu em “línguas de fogo” que desciam sobre cada um deles.
Podemos imaginar que aqueles doze homens reunidos em nome do Cristo formavam, naquele momento, uma comunidade que, como um grande cálice, recebia o Espírito Santo. Mas o Espírito Santo não desceu sobre toda a comunidade e sim, sobre cada um dos discípulos individualmente. “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas” (Atos 2,1-4).
Através dessa imagem, percebemos como as almas dos primeiros discípulos foram despertadas para uma visão superior. Eles foram chamados a contemplar, o que iria ocorrer na vida futura da humanidade na Terra. E tudo aquilo que eles aprenderam com seu mestre, tornou-se claramente consciente. Sentiram um poderoso impulso em seus corações. Entenderam a comunicação do coração, para além das barreiras entre diferentes línguas…
A partir dessa poderosa vivência cada um daqueles homens simples se sentiu forte e pronto para proclamar o Evangelho em palavras que seriam compreensíveis a todos os seres humanos, daquela época e também de épocas vindouras (o presente e o futuro…).
A festa de Pentecostes, hoje, nos convida a conduzir o nosso olhar para um fato muito importante que se iniciou com os apóstolos naqueles dias conturbados. A força do Espírito pode ser sentida em cada um de nós, em nosso ser mais profundo. Podemos, individualmente, buscar a harmonia interna em nosso pensar, sentir e querer. Essa busca é libertadora. E o homem só pode ser livre quando descobre o espirito que habita seu corpo e que permite o domínio de sua natureza corporal.
Se cada ser humano sentir esse impulso do espirito como uma “chama” em si, poderá perceber essa mesma “chama” no outro. E assim uma nova comunidade, de seres humanos livres, poderá ser formada. Uma comunidade na qual os homens, em correto pensar, permitam que os pensamentos se unam e formem ideias e essas ideias formem o “ideal”. Esse ideal irá, por outro lado, impulsionar os homens. Esse círculo fortalece a nossa busca e permite um encontro com aquela força que flui do passado e que tomou conta dos apóstolos, em direção ao futuro de toda a humanidade e de toda a Terra.
Pentecostes hoje, assim como para os judeus antigos, é uma festa de alegria. A alegria do despertar da capacidade de comunicarmos pelo coração e vivenciarmos a paz e o respeito mútuo nas nossas relações. A alegria de sentir chama da espiritualidade em nós. E a espiritualidade, em nós, consiste em sentirmos a nossa presença no mundo; sentirmos as consequências das nossas ações e apatias. Desse modo, além do pensar que cria o “ideal”, percebemos a importância das nossas ações mais elevadas para todo o nosso entorno. Percebemos o peso das nossas omissões e das ações mais egoístas.
Pentecostes é a celebração do despertar da “voz da consciência” em cada ser humano: “desci dos mundos espirituais para esta terra”. Como Ser Humano individual “tenho algo a fazer nesta terra”. Esse despertar permite um atuar mais pleno de amor, uma vivencia comunitária mais justa, e um mundo aonde todos os seres possam sobreviver, atuar e evoluir. Esse é o verdadeiro Espírito do cosmos e essa consciência é uma garantia para que as comunidades unidas em torno desse ideal se relacionem com as forças primordiais divinas do universo.
Bibliografias que me inspiraram:
Pentecostes- coletânea de textos. Comunidade de cristãos. 2011. Edições Moiras;
Pentecostes- a festividade da individualidade livre. Eliseu Takase;
9ª prédica, 2016 – sacerdote João Torunski referente ao Gênesis 11:1-9 e Atos 2:1-6.
(1) Pentecostes 2014 – desconheço o autor.
Luzia Márcia Araújo
Bióloga (UFMG),
Professora Waldorf (Curso em Botucatu),
Professora de Ensino Religioso e Biologia,
Ensino Médio (Colégio Rudolf Steiner de Minas Gerais)
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