Ao ler o livro, Vivências Espirituais na Biografia, fiquei especialmente absorvida pela parte do sono e os sonhos. Desta forma, procurei trazer aqui o que a Dra. Gudrun fala sobre os dois portais do sono: o adormecer e o acordar, e a ponte que existe entre esses dois mundos, bem como as fases pelas quais atravessamos durante o sono.
Durante o estado de vigília, os quatro corpos do ser humano estão presentes e interligados. Porém, essa conexão nem sempre é harmoniosa. Há desgastes. E para que haja a regeneração, os quatro corpos devem afrouxar suas ligações periodicamente, de forma a permitir que cada um renove suas forças. Esse fenômeno é o que chamamos de sono.
Mas, quais são esses quatro corpos que constituem o ser humano? Segundo Steiner, temos os corpos: físico, etérico, astral e o “Eu”. O corpo físico é visível e tem a mesma natureza do mundo mineral. O corpo etérico/vital é invisível, eleva a substância corpórea mineral ao nível da vida. Sem ele, a matéria se desintegraria. Sua natureza é semelhante ao mundo das plantas. O corpo astral, também invisível, é o responsável pelas emoções, instintos, simpatias e antipatias. Sua natureza é parecida com o reino animal. E o “Eu”, dá às pessoas autoconsciência, permite a auto reflexão e possibilita escolher seu próprio destino individual. Tem uma natureza espiritual.
Assim, como já vimos um pouco acima, a ligação entre esses corpos se alterna no estado de sono e de vigília. No estado de vigília os quatro corpos estão interligados e permeiam-se reciprocamente. Durante o estado de sono, o corpo astral e o “Eu” se separam do corpo físico e vital, que permanecem ligados ao mundo sensorial, e o corpo astral e o “Eu” mergulham no mundo espiritual, onde têm suas vivências, de forma inconsciente.
Após o período de sono nos sentimos recuperados. Por isso, Dra. Gudrun diz que o sono é o “guardião da saúde”. No entanto, quando vamos dormir preocupados, o sono tende a ser mais agitado e menos reparador. Por esse motivo, Rudolf Steiner sugere que façamos o exercício da retrospectiva do dia antes de dormir. O exercício consiste em olhar o que aconteceu durante o dia, só passando pelas imagens, de trás para frente, sem nos prendermos as emoções – ou seja, da última coisa que nos aconteceu até chegar a hora em que acordamos. Isto nos ajuda a olharmos nossos atos e vivências do dia que passou com mais objetividade e clareza, trazendo uma separação do que é essencial do acessório. Se tivemos algum conflito com alguém no dia anterior ou se estamos elaborando um projeto, podemos notar que algo vêm da noite sobre essas questões. Assim, podemos dizer, que o sono tem a qualidade de transformar a alma de um dia para o outro.
No despertar, o corpo astral e o “Eu” vão penetrando no corpo físico e etérico pelos membros até chegar à cabeça. Muitas vezes pode levar o dia todo para nos sentirmos acordados. E logo, se desprende novamente ao adormecer.
Dra. Gudrun diz que durante o sono, mergulhamos nos âmbitos do pensar, do sentir e do querer, trazendo forças renovadas do reino do querer para atuarmos no mundo sensorial. O querer é impulsionado pelo movimento do Cosmos. O sentir é movimentado pela luz do Cosmos, que vai para dentro de nós. No pensar recebemos uma força ordenadora, que atua entre a ação e a luz interior dos sentidos.
Steiner diz que passamos por várias fases durante o sono. A primeira fase é a vivência retrospectiva, relacionada ao dia anterior. Essa fase, serve para ordenarmos os acontecimentos do dia a dia. Por isso, se fizermos o exercício da retrospectiva antes de dormir, esse processo é facilitado. Assim, durante a noite temos consciência do que vivenciamos no dia anterior e também do que queremos corrigir. Nesta fase, o astral e o “Eu” tem a impressão de estar nadando numa neblina cósmica, um estado semelhante a primeira infância, quando a criança tem saudade do mundo espiritual, de onde ela veio.
Na segunda fase, começamos a ter a percepção da nossa vida entre a morte e um novo nascimento. Assim, temos a vivência retrospectiva até o momento do nosso nascimento e depois buscamos o que aconteceu desde o nascimento até a última morte. Essas fases não acontecem de forma linear e sim, simultaneamente. Neste momento são elaborados todos os elementos entre a morte e nascimento, temos contato com nossas metas de vida e tomamos consciência do que combinamos desenvolver entre a morte e novo nascimento. Nesta fase, vivenciamos os planetas dentro de nós.
Na terceira fase, temos a percepção de todas as nossas encarnações, pelas quais já passamos em vida. É um retrocesso que vai desde o início de nossa existência até hoje. As fases ocorrem juntas e misturadas e de forma inconsciente. A consequência é que acordamos num estado de humor, que varia entre alegre/triste, pesado/leve, como consequência da ligação com elementos que pegamos de encarnações passadas, que estão relacionados ao nosso carma e destino. Nesta fase, podemos permanecer na esfera planetária ou avançar para a esfera do zodíaco. O Cristo é quem nos guia nessa fase, se mantivermos uma íntima relação com ele durante o dia.
Segundo Dra. Gudrun, o nosso corpo astral e o “Eu” encontram no mundo espiritual muitos seres, pessoas já falecidas, pessoas que ainda estão para nascer. Também fazemos uma análise do que já conquistamos em nosso desenvolvimento e o que ainda nos falta. Nesse momento nos encontramos com nosso duplo, sósia ou sombra. Olhamos não só o nosso passado, mas também o nosso futuro, a pessoa que almejamos ser no futuro.
Muitas vezes experimentamos o “dejá vu” durante o dia. Ele está relacionado a alguma vivência que tivemos durante o sono.
Seres espirituais atuam diretamente nas fases do sono. O Anjo acompanha o processo todo, estando mais ligado a retrospectiva do dia, portanto mais conectado ao passado. Os Arqueus estão mais ligados a fase próxima do acordar, é a fase que tanto os sentimentos, como nossas ações despertam em nós. Os Arcanjos e os Arqueus estão mais direcionados para o futuro. Dra. Gudrun sugere que pela manhã, quando acordamos, deveríamos dedicar um tempo para responder essas três perguntas:
Que pensamentos tenho ao acordar?
Que sentimentos vieram?
Que impulsos surgem dentro de mim?
É muito rico também, registrar as imagens que vêm da noite ao despertarmos. No trabalho biográfico, chamamos esse momento de colheita da noite. São muitos os presentes que podem surgir, tais como novos impulsos e ideias, respostas às questões que nos ocupam no momento, disposição, entre outros. Porém, é necessário estarmos atentos.
Muito do que a Dra. Gudrun escreveu aqui sobre esse tema, está descrito no livro, O sono e seu Significado, de Stefan Leber. Este autor se baseou em Steiner. Stefan diz que as diferentes fases do sono são percorridas várias vezes durante a noite. E se nos ocuparmos com elementos espirituais, leituras adequadas e meditação, podemos chegar até a esfera do zodíaco.
No passado, não era possível voltar da esfera do zodíaco por si próprio. Precisávamos da condução de um hierofante. Hoje, pela força do “Eu” podemos deixar essa esfera do sono, por nós mesmos.
Steiner diz que há uma sabedoria, que independente do tempo que temos entre o adormecer e o despertar, o caminho percorrido acontece. “Quando dormimos por 15 minutos, o sono sabe quando é o começo e quando será o fim. E vocês, nesses 15 minutos, vivenciam retrospectivamente o que fizeram desde o último acordar. A distribuição é bem ordenada e nos deixa admirados”.
No processo do sono, passamos por dois Portais, o adormecer e o acordar. Vivenciamos a transição entre o mundo material e o mundo espiritual e vice versa.
Ao adormecer, vamos nos “fechando dos órgãos de sentidos”, fechamos os olhos, depois ouvidos, os membros ficam imóveis, a fala desaparece e entramos num estado de sono tranquilo. Nos fechamos ao mundo terrestre, material e nos abrimos ao mundo espiritual. A consciência apaga. Muitas vezes carregamos sentimentos de preocupação, medos, etc. Passamos pelo limiar que protege o indivíduo do que acontece na realidade. Lá encontramos o Guardião do Limiar, aquele que guarda todas as nossas imperfeições – nossa própria sombra, e ao mesmo tempo carrega nossa essência humana futura, nossa imagem ideal – o ser luminoso. Nenhuma dessas imagens são reveladas. Essa passagem pelo ser do passado e do futuro, acontece tanto no adormecer como no acordar, e é velada para nós. É o Guardião que nos protege e impede o nosso contato com essas imagens.
Antes de acordar, o ser humano passa em retrospectiva as fases do sono, como em imagens. Essas imagens unem-se ao cérebro tornando-o mais flexível, regenerando-o, e assim conseguimos completar um pensamento que não era possível no dia anterior. A regeneração do cérebro é sentida no momento de acordar.
Ao despertar, para que o “Eu” e o astral voltem ao corpo etérico e físico, a alma precisa receber um estímulo sensorial (por ex. uma bexiga cheia, um som externo). A alma percebe essa sensação e se apodera do corpo, ocorrendo a ligação dos quatro corpos.
Ao longo da evolução, o corpo astral tornou-se cada vez mais vazio, incapacitado de receber impulsos durante a noite; por isso, a alma é possuída pelo meio externo ao invés de assumir seus próprios impulsos, tornando-se cada vez mais difícil tomar decisões na vida. O que se vivencia à noite se projeta para o dia seguinte, mas pode permanecer inconsciente e aflorar durante o dia como sensações de mau humor, mal estar, nervosismos, etc.
“Durante o sono no desenvolvimento humano acontece tudo aquilo que os seres superiores querem implantar na alma humana para levar o ser humano a um desenvolvimento global dentro da existência humana. São as tarefas objetivas para grupos, povos, nações e a humanidade. Os impulsos históricos de mudança acontecem nesse processo”. (Rudolf Steiner – GA214)
Como decifrar os sonhos?
Os sonhos são reproduções da vida externa tal como vivemos no plano físico, cujas imagens são representadas de forma inconscientes.
Como nos prendemos ao dia a dia, às simpatias e antipatias, o sonho sobrepõe essas vivências com outras mais profundas, as quais nos permitiria visualizar o nosso destino e a razão mais profunda de nossa existência. Assim, encobrimos tudo com a superficialidade do dia a dia. Como o “Eu” e a vontade não estão muito fortalecidos, evitamos inconscientemente o acesso a tais regiões mais profundas.
A dinâmica do sonho vem do corpo astral e as imagens vêm do corpo etérico, o portador da memória. É importante observar a ação que o sonho apresenta. Ele surge quando o astral e o “Eu” ainda estão parcialmente ligados ao etérico e físico. Imagens de vidas passadas podem fluir para o sonho, assim como as imagens da vida diurna. Todo movimento no sonho vem dos movimentos planetários.
Os sonhos aparecem de forma mais caótica com mais frequência no período de adormecer, e mais ordenados na hora de acordar. Muitos sonhos são espelhamentos do organismo interior. Ex.: pessoa com febre pode ter sonho com incêndio. Outro tipo de sonho, são reflexos de pensamentos e sensações que o indivíduo deve durante o dia e que aparecem de forma simbólica. Outro tipo de sonho é o prenúncio verdadeiro, algumas vezes se apresenta sob a forma de sonhos de cura.
O elemento mais importante do sonho não é o conteúdo, mas a sua dramaticidade e dinâmica. Como a pessoa age. Por ex. a pessoa se permite dar uma surra em alguém que ela não se permitiria fazer na vida comum, trazendo à superfície, a antipatia profunda por aquela pessoa.
Fernanda Delfini Cera atua como Aconselhadora Biográfica e Psicoterapeuta voluntária na Associação Comunitária Monte Azul desde 2019. Consultora e Coach. Trabalhou no ABN AMRO Real por 12 anos, onde atuou em Desenvolvimento Organizacional, Educação Corporativa, Sustentabilidade, Desenvolvimento de Lideranças e como Business Partner. Antes, trabalhou por 10 anos como consultora da Coopers & Lybrand em projetos de Change Management, Reestruturação Organizacional e Executive Search, em diferentes segmentos. Fernanda é graduada em Psicologia (PUC-SP) e possui Especialização em Administração Orientada para o Mercado (ESPM). Cursou MBA em Recursos Humanos (FIA/USP) e Formação de Coaching (Instituto Ecosocial); é certificada em Transformação Cultural (Barrett Values Centre) e fez Formação em Aconselhamento Biográfico (Associação Sagres).
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